terça-feira, fevereiro 19, 2008
Coração ..
Hoje vou falar do meu coração.
Como todos os corações, ele é rebuscado, tem múltiplas portas, janelas, salas, reentrâncias, labirintos e arcas mágicas.
Tem também muitas plantas que amo.
Quem entra no meu coração, seja pela Porta Desde Sempre, aquela por onde entraram todas as pessoas que me amavam desde antes do meu nascimento, seja pela Porta dos Flashes, reservada às pessoas que de imediato (re) conheci como amigos/ amores, seja pela Porta das Flores Gradualmente Nutridas, destinada a todos aqueles que que fui aprendendo a estimar cada vez mais e hoje são presenças fulcrais no meu universo, muito dificilmente sai.
Habitualmente, conservo as plantas do meu coração, mesmo que deixemos a distância insinuar-se e o comodismo dominar.
As salas do meu coração servem para os meus afectos conviverem. Por exemplo, o meu entusiasmo benfiquista brinca animadamente com a minha mística de Esquerda e com a minha espiritualidade de raíz cristã e asas vagamente "new age". Podem amuar durante instantes, mas nunca se zangam a sério.
Nas reentrâncias do meu coração vivem imagens, aromas e sabores que nele gravei muito jovem e, entretanto, quase acreditei ter esquecido – a casinha de chocolate de Hansel e Gretel, o sabor do Toddy, a dançabilidade de uma canção dos Boney M (que poucos anos depois renegaria e mais tarde respigaria, já sem "complexos"), os lábios de Sting, o fato que me vestiu da primeira vez que fui a uma discoteca, a súbita
emoção de ver que uma iniciativa como o Live Aid era possível...
Pelos labirintos vogam todos os sentimentos que ainda não entendi e, provavelmente, nunca serei capaz de compreender - a dor de algumas rupturas, a mágoa de diversas injustiças, alguns lamentos por passos que nunca ousei dar, "a jura secreta que não fiz"....
Nas arcas mágicas do meu coração moram as lembranças mais ternas da minha infância, os encantos da adolescência, as cartas de amor, escritas e por escrever que redigi e recebi, os momentos em que alguém disse amar-me e eu disse amar alguém, os beijos de amor, as pétalas das rosas recebidas, os sorrisos que vi nascer em rostos amados, as gargalhadas que soltei, os meus momentos de tristeza e o brilho que cada alvorada me devolveu.
No meu coração existe uma sala destinada aos meus sonhos. Alguns têm já esboço e cor. Outros são, ainda, silhuetas pouco definidas...
Nesse compartimento vivem também pessoas que já partiram e que continuo amar.
Entre os meus avós e alguns tios e primos está a minha Mãe. Sempre terna, sempre sorridente. É a minha Mãe. Eu ofereço-lhe flores e poemas, ela oferece-me a sua sensatez alegre.
Pelas janelas coloridas do meu coração planam todos aqueles que eu estimo.
O meu Amado, os álbuns de vida que que em mim inscreveu, os sonhos que me ajudou a desenhar, a sua pele, a sua sensibilidade...
O meu Pai, que agora me oferece solitário testemunho da minha meninice em estórias entrelaçadas que sempre me comovem...
E todos os Amigos, pertencentes ou não à Tribo inicial, entrados por qualquer das portas e que, de alguma maneira, tenham gravado o seu nome no meu coração.
A todos acolho numa ternura imensa.
E todos saúdo nesta madrugada que quero festiva.
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